Não sei se é do tempo ou dos dias mais pequenos, se é do cansaço que sinto logo nos primeiros meses de trabalho após as férias, em que sinto que as coisas ainda não correm sobre rodas; mas mais ou menos nesta altura ( que curiosamente coincide quase sempre com o Thanksgiving) sinto uma grande quebra de energia e uma considerável perda de encantamento por aquilo que habitualmente me comove.
A juntar a tudo isto, com a chegada do frio o meu pai quase sempre piora e infelizmente recebemos recentemente a triste notícia que as metástases, que já tinha nos pulmões, passaram para a coluna. Senti que fiquei sem chão outra vez , tal qual como quando soube que ele tinha cancro, vai fazer 3 anos ...
Ao longo deste tempo vamos aprendendo a conviver com a doença que, sendo incurável, no caso do meu pai, ia-se mantendo estável, o que lhe permitia viver com uma certa "qualidade" de vida ( apesar dos pesares). Este revés fez-me sentir novamente o terror de o perder, o terror de o ver sofrer com dores ... já chorei muito, já me acalmei, tento não pensar no futuro, já basta o que sofro no presente não quero sofrer por antecipação pensando no que o futuro nos reserva.
Já estive com ele, já conversámos, já o beijei e abracei, já lhe afaguei as bochechas já trocámos aqueles olhares que não precisam de palavras ...
Depois de saber da notícia preciso de algum tempo para assimilar tudo e quanto menos socializar melhor, porque até posso estar tranquila mas se vejo alguém de quem gosto e me pergunta se está tudo bem começo logo a chorar; preciso de estar no meu canto e de falar com o menor nº de pessoas.
Ora este fim de semana tinha um almoço com um grupo de amigas de quem gosto muito e que já tinha sido combinado há algum tempo, pensei em não ir mas depois pensei melhor, pensei que tenho de viver, pensei que tenho de usufruir da companhia das pessoas de quem gosto e que me fazem bem, pensei em sair de casa e passear por uma cidade que eu adoro, pensei que só me iria fazer bem viver aqueles momentos que me fazem feliz, seja uma conversa e um sorriso de uma amiga, uma fatia de bolo ou simplesmente apreciar uns azulejos, ou uma varanda de ferro forjado, ou vasos no parapeito da janela ou os candeeiros que só se vêem em Lisboa.
Ainda bem que fui, pelo menos somei um dia feliz à minha vida que não sei se vai ser curta ou comprida ...
O almoço foi no restaurante vegetariano
Terra, no Príncipe Real.
Recomendo!