A casa do meu sogro é um daqueles casos em que só lhe demos o devido valor quando a perdemos, não é que não lhe déssemos valor mas nunca nos ocorreu que o meu sogro quisésse vender a casa e nós ficarmos sem ela ... para sempre ...
As férias em que lá íamos passar uns dias eram uma aventura em que eu , qual Indiana Jones, enfiava-me na "loja " em busca da "arca perdida " !
Muitos tesouros encontrei que o meu sogro julgava perdidos para sempre; lavei-os, alguns tive de colar e devolvi-os à casa onde sempre viveram.
As pessoas que nasceram, cresceram e que vão morrendo juntamente com a casa e os seus objectos não lhes dão o valor que nós lhes damos; para nós são preciosidades para eles são objectos banais do dia a dia.
Nos anos 80 houve muitos antiquários que andavam nas aldeias em busca destas preciosidades; em troca de pratos, terrinas, travessas já rachadas, alguns com agrafos, convenciam as pessoas a trocar por serviços de loiça ou vidro e no fim todos ficavam satisfeitos, os primeiros porque tinham trocado ouro por batatas e os segundos porque se tinham livrado dos tarecos velhos e ficado com uns novos ...
A família do meu sogro era uma família relativamente abastada em comparação ao resto da aldeia, mas ao longo dos anos houve muita coisa que desapareceu; restaram poucas loiças, poucos móveis, e quando os irmãos mais velhos, que ainda viviam lá em casa, decidiram fazer nalgumas partes da casa, aquelas obras espectaculares em que se substitui as janelas e portas de madeira pelas de aluminio, o chão e tectos de madeira por cimento, os móveis centenários cheios de bicho da madeira e caruncho por novos de fórmica, houve muita coisa que foi atirada para a loja e outras coisas simplesmente foram deitadas para o lixo ou queimadas ...
Então o que restou foi pouca coisa em comparação ao que já tinha havido; mesmo assim havia ainda um lindo louceiro que nós, sozinhos, restaurámos e que era a jóia da coroa lá de casa, onde colocámos as loiças mais antigas e outras peças que andavam perdidas pela casa.
O louceiro ficou, a cómoda que viram no post anterior também, malas, arcas e baús alguns com roupas comuns mas outros com peças de linho antiquíssimas também ficaram ( só trouxe algumas peças ) , a mesa da sala, as cadeiras e os banquinhos ( só touxe um ) também não pudemos trazer, as camas de ferro, a grande panela de ferro também ficou para trás ... e ficaram as escadas de granito onde nos sentávamos depois do jantar a conversar e onde o meu sogro ano após ano contava as mesmas histórias e nós, mesmo já as tendo ouvido dezenas de vezes, voltavamos a ouvir com a mesma atenção e voltavamos a fazer as mesmas perguntas que sabíamos que o meu sogro contava que as fizesssemos; ficou o morceguito que ao lusco fusco lá nos vinha cumprimentar com os seus voos circulares, ficou o som dos animais nas lojas dos vizinhos, ficou a paisagem das terras que se perdia de vista até à Serra da Estrela que víamos da janela da cozinha, ficou muito mais do que eu alguma vez conseguiria aqui escrever ... agora já está, acabou.
A senhora que comprou a casa vai remodelá-la para o filho que voltou da Suiça, embora o meu sogro lhe tenha pedido para ela o contactar caso encontre algo que ela sinta que pertença à família tenho as minhas dúvidas; no fim ela é que ficou com a "Arca perdida " que afinal sempre esteve ali em frente aos nossos olhos ...
A história continua, mas o capítulo do Marmeleiro chegou ao fim.
tanta coisa linda... a mulher teve muita sorte por ter ficado com uma casa com uma vista tão linda e com coisas tão lindas!
ResponderEliminarEu vivo em Abrantes, numa aldeia chamada Mouriscas, fazemos fronteira com o Ribatejo, a Beira Baixa e o Alto Alentejo, no Inverno temos estas temperaturas bastante frias e no verão morre-se aqui de calor!
beijinhos
Oh, que pena, que tristeza, que relíquia...
ResponderEliminarMas ficam as memórias desse lugar especial. E essas ninguém vos tira!
Agora é olhar em frente. Quem soube ver ali tantos detalhes especiais, vai ser capaz de encontrar tantos outros em muitos outros lugares.
Beijinhos!
é uma pena... As tuas fotografias mostram pormenores lindos. Agora é partir para uma nova aventura, procurar outra Arca Perdida. Quem sabe se não está mais perto do que julgas? Beijinhos
ResponderEliminarCusta porque ainda havia tanto para descobrir, ver, sentir, recordar ... é triste
ResponderEliminarestou sem palavras...
ResponderEliminarhá que seguir em frente (afinal são só coisas materiais)
...Bj*