Cresci numa aldeia onde quase toda a gente cultivava os seus próprios vegetais; quando passava no IC19 achava piada às hortas urbanas que se equilibravam nas suas encostas, cultivadas maioritariamente por imigrantes africanos e gente das beiras e de além Douro que se deslocaram para a capital; depois quando me casei fui viver para os subúrbios, onde há 12 atrás não se viam, nem se falavam, nas hortas urbanas; a falta de espaços verdes era aflitiva e além do caos urbanístico a visão de baldios abandonados e cheios de ervas e lixo era desolador.
Aos poucos, felizmente, isso tem vindo a mudar; há cada vez mais gente a interessar-se pela jardinagem e com gosto em plantar os seus legumes e ervas aromáticas nas suas varandas quando não têm mais espaço para o fazer e aqui e ali vão surgindo cada vez mais hortas urbanas e noto que há uma crescente preocupação das autarquias em proporcionar aos habitantes destas grandes áreas urbanas espaços de lazer, desde jardins a hortas comunitárias, o que é verdadeiramente execpional.
O que continua a falhar são aqueles pequenos espaços, inicialmente concebidos como canteiros, completamente abandonados, vêem-se bastantes em redor das árvores, a separar as estradas dos prédios, junto às paragens dos autocarros etc; muitos, ao fim de poucos anos, acabam sem flores e apenas com ervas daninhas, lixo e cócós de cão ...
Recentemente li um artigo em que ouvi falar pela 1ª vez no Guerilla gardening, já existe há imenso tempo mas infelizmente continua a ser um movimento semi clandestino, pois os participantes actuam sobre propriedade particular e/ ou espaços públicos negligenciados mas que precisam das devidas autorizações e que sem elas tornam esta actividade ilegal ... enfim ... em contrapartida The edible bus stop é uma associação que, inicialmente actuavam como voluntários da guerilla gardening, mas que agora trabalham junto das comunidades e com o conhecimento e devidas autorizações das autarquias, tornando a sua actividade legal ( foi o que eu depreendi do que li mas o meu inglês não é o melhor ).
Outro artigo que já referi aqui e que vai de encontro a esta temática é a decisão da própria Câmara de Seattle plantar árvores e arbustos de frutos e ervas aromáticas nos espaços públicos da cidade, onde qualquer cidadão poderá colher os seus frutos.
Todas estas iniciativas são de louvar, acho que é imperativo cuidar dos espaços que habitamos de forma a melhorar a nossa qualidade de vida; os responsáveis autárquicos têm as suas obrigações mas nós como cidadãos também temos o dever de sermos mais proactivos e de cuidar daquilo que é nosso e de todos; é importante aumentar os espaços verdes, é importante embelezá-los com relvados, flores e árvores mas porque não plantar árvores de fruto e legumes nos canteiros ? Faria todo o sentido e aposto que a manutenção e os gastos não seriam muito diferentes do que se faz agora.
Da nossa parte acho que não custa nada começar por sugerir na reunião de condóminos que tratemos daquele canteiro em frente ao prédio por exemplo ...
Bem sei que a nível de mentalidades ainda temos um longo caminho pela frente mas o importante é darmos o 1º passo e acredito que todos nos encaminhamos na mesma direcção e mais cedo ou mais tarde havemos de nos encontrar todos no óbvio.
Esta foto foi tirada há alguns meses em Alfama, o engraçado é que há cidadãos que espontaneamente, sem qualquer tipo de ideologia ou filosofia, plantam os seus vegetais onde lhes der mais jeito para desta forma poderem tratar e consumir os seus próprios produtos ... acho que a grande maioria dos portugueses tem ainda bem latente essa ligação à terra o que é maravilhoso :)