quarta-feira, 28 de maio de 2014

Memórias olfactivas

Outro dia aconteceu uma coisa muito estranha, estava a brincar com o meu gato e gosto de esfregar a minha cara no seu pêlo macio, quando encostei o meu nariz ao pescoço dele e senti o seu cheiro senti um baque no peito pois lembrei-me de imediato do meu querido e saudoso avô Zé que faleceu quando eu tinha 11 anos.
O meu avô Zé era uma das pessoas mais queridas e bem dispostas que eu já conheci, tinha um sorriso aberto e ria também com os olhos, que ficavam muito pequeninos.
Lembro-me de estar a brincar no páteo ao fim da tarde e de o ver chegar na sua pasteleira com o saco de pano com o seu farnel pendurado no guiador; corríamos para ele e ele ria e dáva-nos grandes palmadas nas costas ( carinhosamente) e chamava-nos mananotas! Lembro-me que quase sempre tirava um pedaço de queijo do saco e com a sua navalha cortava-o e partilhava-o connosco; era um queijo flamengo que já não se encontra facilmente nos dias de hoje, mas quando o encontro e o provo, fecho os olhos enquanto o saboreio e vejo o meu querido avô a sorrir para mim em cima da sua bicicleta.
A importância dos cheiros nas nossas memórias é uma coisa curiosa, a mesma pessoa ou casa ou outra coisa, pode exalar um cheiro que para uns é agradável e traz recordações especiais e para outros não ... o cheiro do pescoço do meu gato é difícil de definir, não sei porque desencadeou essa memória, mas sei que avivou uma série de recordações que tendem a esbater-se ao longo dos anos e fez com que eu visse o meu avô com uma nitidez há muito perdida.

A última vez que vi o meu avô com vida estava a ver o Panda Tao Tao; disse-me até amanhã como nos outros dias, guardo essa imagem dele na porta da sala a espreitar e a despedir-se ... durante muito tempo não consegui ver este desenho animado pois sentia uma tristeza enorme, agora, de vez em quando, procuro a música e fico sempre emocionada quando a oiço ... meu querido avô, um dia quem sabe se nos havemos de encontrar ...


5 comentários:

  1. A memória dos cheiros é a mais poderosa de todas. :) Que o teu avô descanse em paz.

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  2. Concordo, a memória dos cheiros é a mais poderosa. Tal como tu também já me aconteceu sentir esse baque no coração quando sinto alguns cheiros. É mesmo muito poderoso!

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  3. às vezes acontece-me o mesmo, o cheiro e as sensações são coisas que ficam sempre, mesmo quando já nos custa visualizar bem as feições das pessoas. eu gosto muito dessas "viagens", levam-nos para tempos muito bons:)
    beijinhos

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  4. É tão verdade esta coisa dos cheiros, que fica gravada em nós e nunca mais a perdemos. E sabe tão bem ter cheiros bons...

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  5. :) o panda Tao Tao traz-me as melhores memórias... Boa semana!

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