quarta-feira, 26 de novembro de 2014

A soma dos dias

Não sei se é do tempo ou dos dias mais pequenos, se é do cansaço que sinto logo nos primeiros meses de trabalho após as férias, em que sinto que as coisas ainda não correm sobre rodas; mas mais ou menos nesta altura ( que curiosamente coincide quase sempre com o Thanksgiving) sinto uma grande quebra de energia e uma considerável perda de encantamento por aquilo que habitualmente me comove.
 A juntar a tudo isto, com a chegada do frio o meu pai quase sempre piora e infelizmente recebemos recentemente a triste notícia que as metástases, que já tinha nos pulmões, passaram para a coluna. Senti que fiquei sem chão outra vez , tal qual como quando soube que ele tinha cancro, vai fazer 3 anos ...
Ao longo deste tempo vamos aprendendo a conviver com a doença que, sendo incurável, no caso do meu pai, ia-se mantendo estável, o que lhe permitia viver com uma certa "qualidade" de vida ( apesar dos pesares). Este revés fez-me sentir novamente o terror de o perder, o terror de o ver sofrer com dores ... já chorei muito, já me acalmei, tento não pensar no futuro, já basta o que sofro no presente não quero sofrer por antecipação pensando no que o futuro nos reserva.
Já estive com ele, já conversámos, já o beijei e abracei, já lhe afaguei as bochechas já trocámos aqueles olhares que não precisam de palavras ...
Depois de saber da notícia preciso de algum tempo para assimilar tudo e quanto menos socializar melhor, porque até posso estar tranquila mas se vejo alguém de quem gosto e me pergunta se está tudo bem começo logo a chorar; preciso de estar no meu canto e de falar com o menor nº de pessoas.
Ora este fim de semana tinha um almoço com um grupo de amigas de quem gosto muito e que já tinha sido combinado há algum tempo, pensei em não ir mas depois pensei melhor, pensei que tenho de viver, pensei que tenho de usufruir da companhia das pessoas de quem gosto e que me fazem bem, pensei em sair de casa e passear por uma cidade que eu adoro, pensei que só me iria fazer bem viver aqueles momentos que me fazem feliz, seja uma conversa e um sorriso de uma amiga, uma fatia de bolo ou simplesmente apreciar uns azulejos, ou uma varanda de ferro forjado, ou vasos no parapeito da janela ou os candeeiros que só se vêem em Lisboa.
Ainda bem que fui, pelo menos somei um dia feliz à minha vida que não sei se vai ser curta ou comprida ...






O almoço foi no restaurante vegetariano Terra, no Príncipe Real.
Recomendo!




6 comentários:

  1. Querida Dulce,
    Fiquei com o coração apertado ao ler o teu post. Infelizmente sei um pouco daquilo que estás a passar, e não há palavras suficientes para nos tirarem o peso do peito e nos descansarem. Só mesmo o mimo das pessoas que gostam de nós, e de nós mesmos, para apaziguar um pouco todos os sentimentos mais negros que estas situações envolvem. E refugiarmo-nos nesses pequenos prazeres da vida, que na verdade são o que mais importante podemos fazer por nós, sem culpa! Ainda bem que foste a esse almoço e que gostaste. Um abraço apertado, e muita força! Para o teu pai, desejo o melhor possível!

    ResponderEliminar
  2. Olá Dulce, tenho pena que estejas a passar por momentos tão dificeis ainda mais nesta altura em que se exige muito das pessoas: que estejam alegres, motivadas para as festas de Natal, prontas para celebrar e conviver. Mas fizeste muito bem em ires almoçar com as tuas amigas, por algumas horas esqueceste os teus problemas e com certeza isso foi positivo. Isolarmo-nos é pior. Conheço esse restaurante, o jardim lá atrás, num dia bonito, não há melhor. Por vezes vou lá almoçar ao domingo.
    Quanto ao post do blog, não cheguei a conclusão nenhuma, mas penso que houve ali uma disputa entre filhos e netos, que acabaram por colocar a senhora num lar, não dividir nada e entregar a casa no seu todo. lamentável!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não é nada fácil mas por outro lado faz-me ver e dar valor ao que de melhor me rodeia pois a vida é demasiado curta e imprevisível ...
      Obrigada e beijinhos :)

      Eliminar
  3. não há uma receita para se lidar com estas situações, até porque elas se podem manifestar de forma diversa e despertar em nós os mais diversos sentimentos de aceitação, revolta, medo, pavor entre muitas outras coisas nas quais o nosso humor e a nossa crença vai flutuando. Acho que é importante tudo o que acabaste de descrever, estares com o teu pai e dares-lhe apoio e ao mesmo tempo deixares que te apoiem também para ires equilibrando as forças. permitires-te depois daquelas lágrimas que vêm do fundo da alma, esboçar um sorriso com um detalhe da vida que te cative e ver nele que a tua esperança recupera mais um pouco. Há uma atitude que podemos até confundir com um pouco de loucura, mas acho que o melhor é aceitá-la, é um mecanismo que nos pode ajudar a passar pelas situações mais complicadas sem sucumbir. respeitares a tua necessidade de isolamento assim como respeitares que te apetece estares um pouco com amigos e espairecer sem te culpabilizares por nenhuma das duas. Acho que estás a perceber isso e estás no bom caminho. Boa semana e força!

    ResponderEliminar