domingo, 28 de abril de 2013

É mesmo isto !

Cresci numa aldeia onde quase toda a gente cultivava os seus próprios vegetais; quando passava no IC19 achava piada às hortas urbanas que se equilibravam nas suas encostas, cultivadas maioritariamente por imigrantes africanos e gente das beiras e de além Douro que se deslocaram para a capital; depois quando me casei fui viver para os subúrbios, onde há 12 atrás não se viam, nem se falavam, nas hortas urbanas; a falta de espaços verdes era aflitiva e além do caos urbanístico a visão de baldios abandonados e cheios de ervas e lixo era desolador.
 
Aos poucos, felizmente,  isso tem vindo a mudar; há cada vez mais gente a interessar-se pela jardinagem e com gosto em plantar os seus legumes e ervas aromáticas nas suas varandas quando não têm mais espaço para o fazer e aqui e ali vão surgindo cada vez mais hortas urbanas e noto que há uma crescente preocupação das autarquias em proporcionar aos habitantes destas grandes áreas urbanas espaços de lazer, desde jardins a hortas comunitárias, o que é verdadeiramente execpional.
 
O que continua a falhar são aqueles pequenos espaços, inicialmente concebidos como canteiros, completamente abandonados, vêem-se bastantes em redor das árvores, a separar as estradas dos prédios, junto às paragens dos autocarros etc; muitos, ao fim de poucos anos, acabam sem flores e apenas com ervas daninhas, lixo e cócós de cão ...
 
Recentemente li um artigo em que ouvi falar pela 1ª vez no Guerilla gardening, já existe há imenso tempo mas infelizmente continua a ser um movimento semi clandestino, pois os participantes actuam sobre propriedade particular e/ ou espaços públicos negligenciados mas que precisam das devidas autorizações e que sem elas tornam esta actividade ilegal ... enfim ... em contrapartida  The edible bus stop é uma associação que, inicialmente actuavam como voluntários da guerilla gardening, mas que agora trabalham junto das comunidades e com o conhecimento e devidas autorizações das autarquias, tornando a sua actividade legal ( foi o que eu depreendi do que li mas o meu inglês não é o melhor ).
 
Outro artigo que já referi aqui e  que vai de encontro a esta temática é a decisão da própria Câmara de Seattle plantar árvores e arbustos de frutos e ervas aromáticas nos espaços públicos da cidade, onde qualquer cidadão poderá colher os seus frutos.
 
Todas estas iniciativas são de louvar, acho que é imperativo cuidar dos espaços que habitamos de forma a melhorar  a nossa qualidade de vida; os responsáveis autárquicos têm as suas obrigações mas nós como cidadãos também temos o dever de sermos mais proactivos e de cuidar daquilo que é nosso e de todos; é importante aumentar os espaços verdes, é importante embelezá-los com relvados, flores e árvores mas porque não plantar árvores de fruto e legumes nos canteiros ? Faria todo o sentido e aposto que a manutenção e os gastos não seriam muito diferentes do que se faz agora.
 
Da nossa parte acho que não custa nada começar por sugerir na reunião de condóminos que tratemos daquele canteiro em frente ao prédio por exemplo ...
Bem sei que a nível de mentalidades ainda temos um longo caminho pela frente mas o importante é darmos o 1º passo e acredito que todos nos encaminhamos na mesma direcção e mais cedo ou mais tarde havemos de nos encontrar todos no óbvio.
 

 
Cá em Portugal também existe este movimento, não sei se muito ou pouco activo, mas é bom saber que aqui e ali vão surgindo grupos de cidadãos que se preocupam e que querem fazer a diferença .

 
Esta foto foi tirada há alguns meses em Alfama, o engraçado é que há cidadãos que espontaneamente, sem qualquer tipo de ideologia ou filosofia, plantam os seus vegetais onde lhes der mais jeito para desta forma poderem tratar e consumir os seus próprios produtos ... acho que a grande maioria dos portugueses tem ainda bem latente essa ligação à terra o que é maravilhoso :)

8 comentários:

  1. Não conhecia estes movimentos de guerilla gardening mas parece-me super interessante!
    Eu acho fantástica a ideia de hortas urbanas. Aqui mesmo em baixo de casa, em pleno centro da cidade há uma horta urbana que pertence à câmara e é feita para os reformados terem um sitio onde podem plantar algumas coisas. Eu gosto sempre de passar por lá e ver as frutas e verduras como se estivéssemos no meio do campo e acho que coisas destas deveriam de existir cada vez mais, afinal só têm vantagens! :)

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  2. Sem dúvida, também acho, e acho que deviam existir até mais movimentos para reabilitar, por exemplo, aqueles quintais que quase todos os prédios lisboetas têm nas traseiras e assim envolverem e salvarem os idosos daquela clausura deprimente... enfim, há tanto a fazer ;)

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  3. No Porto, em frente ao hospital militar na Boavista, há laranjeiras no separador central... Confesso que me supreendi quando vi a primeira vez :)
    Eu cresci numa zona rural, a minha mãe, no quintal lá de casa e num terreno ao lado, cultivava de tudo um pouco, tinhamos inclusive, galinhas e coelhos... era outra qualidade de vida sem dúvida...e havia sempre pão, cozido em forno de lenha... mas a idade foi avançando e aos poucos teve de deixar a terra... actualmente no quintal lá de casa, há flores que ainda foram plantadas pela minha mãe...e há salsa e alfaces plantadas por mim... o ano passado arrisquei plantar umas pencas, mas confesso, não tenho vida para isso... porque não é só plantar, depois é preciso cuidar...e eu tenho já tenho duas casas para tratar e o meu trabalho...

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  4. Espero que as laranjas sejam comestíveis e não daquelas amargas de jardim que só servem para enfeitar ... um autêntico desperdício :/
    Compreendo, eu ainda tenho a sorte de receber legumes e ovinhos caseiros dos meus pais e do meu sogro.
    Sei que nem sempre é fácil tratar da terra e a natureza às vezes pode ser inclemente, mas acho que cada vez mais temos de pensar na nossa subsistência mas para já pode ser apenas um hobby terapêutico ;)

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    1. Eu perdi a minha mãe, faz este mês um ano :( continuar a cultivar a terra era uma forma de a homenagear, tanto ralhei com ela pelo facto de não deixar a terra e ter uma velhice descansada...uma semana antes de sofrer o avc, ainda me disse que naquele ano ia semear batatas, e que contava comigo para a ajudar...a minha "ajuda" foi prestada de outra forma, cuidando dela durante os 15 meses que ficou acamada e totalmente dependente, enfim.... vou fazendo o que posso, pode ser que quando me recuperar da depressão e de todo este cansaço fisico, já consiga lidar com o trabalho na terra sem ficar toda "partida". Até lá, vou cuidando das flores e da mini horta plantada em vasos, que tenho em minha casa :)

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  5. lamento muito Maria, mas concerteza que quando cuidas das tuas flores e da tua mini horta, todo o cuidado e amor que depositas em cada um dos teus gestos é uma forma de estares mais próxima da tua mãe e de manterem essa ligação.
    Beijinhos Maria :)

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  6. Por aqui sempre se fizeram hortas, as pessoas são muito renitentes em comprar alguma coisa fresca no supermercado, principalmente os vegetais.
    Ainda em que as crises têm estes lados positivos, sempre servem para alguma coisa, são iniciativas de louvar!
    beijinhos

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  7. Nem mais Ana .
    Os meus pais (até ao meu pai adoecer ) sempre cultivaram tudo, desde batatas, cebolas, alfaces, tomates etc etc e eu raramente tinha de comprar vegetais; agora só o meu sogro é que cultiva alguns vegetais mas a horta é pequenina e não dá para muita coisa... por isso ando com muita vontade de aprender umas coisas de agricultura e sustentabilidade ;)

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