sábado, 2 de junho de 2012

Um passo de cada vez

Após ter lido este post aqui  e os restantes comentários, concluí que quase todos sentimos a falta do mesmo : dos avós, dos dias longos e despreocupados e da liberdade de poder andar na rua à vontade, sem medos.
A minha resposta à pergunta : "do que mais sente falta do tempo em que era pequena. " foi precisamente a falta da liberdade de andar na rua.
Recordo com saudade os momentos felizes da minha infância; que foram muitos, graças às pessoas com as quais cresci e à sorte de ter crescido numa aldeia onde todos se conheciam e onde nos sentíamos em segurança, mesmo quando íamos para o rio armados em Indiana Jones.
Não é de agora que constacto com tristeza que a infância das minhas filhas vai ser muito diferente da minha; eu e a minha irmã desde que nos levantáva-mos até à hora do jantar passávamos o dia na rua a brincar com os amigos, nós não sentíamos medo e os meus pais não tinham as preocupações que hoje temos com a falta de segurança ( mesmo nas aldeias ); a minha filha mais velha vai fazer 8 anos e o dia a dia é passado entre casa e escola e escola e casa; não tem amigos onde vive, ( os únicos que tem são os da escola que vivem longe de nós porque ela frequenta a escola perto do nosso local de trabalho ), quando está em casa está sempre connosco, é claro que vamos passear, tentamos fazer programinhas interessantes, também temos a sorte de ter uma casa de fim de semana no pinhal com bastante espaço onde ela pode brincar à vontade com a irmã,  MAS ... o busílis da questão ( sempre quis aplicar esta palavra numa frase :p ) é que efectivamente a minha filha, e as crianças de hoje em dia em geral, não têm liberdade absolutamente nenhuma e isso é muito muito  triste.
A realidade é que as ruas já não são seguras, não sei o que se passou nos últimos 30 anos, mas antes as crianças da aldeia e até da cidade brincavam em segurança nas ruas e hoje em dia isso já não é possível sem a supervisão dos pais; para mim isso é dramático e sinceramente não sei o que podemos fazer para alterar a situação ...

Hoje estamos as três sozinhas em casa e pensamos em fazer queijadas à tarde mas faltáva-nos alguns ingredientes, então perguntei-lhe se queria ir à mercearia da rua comprar o que faltava; olhou para mim com os olhos muito abertos e um sorriso rasgado e exclamou um " A sério ????????????? "
Foi a 1ª vez que ela saiu de casa sozinha, dei-lhe uma carteirinha com uma nota de 5 €, disse-lhe para ir descansada que eu a ficava a ver daqui do terraço e lá foi ela tão contente, a sentir-se tão responsável e crescida; eu fiquei um pouco preocupada confesso, pois vivemos numa rua bastante movimentada, mas achei que era um passo importante que de alguma forma tenta contrariar este ambiente de medo e insegurança que todos nós vivemos.
Fiquei muito emocionada e cheia de orgulho ao vê-la cá de cima do 4º andar a afastar-se determinada pelo passeio, a atravessar a estrada de forma responsável e a voltar com o seu saquinho de compras e mil estrelas no olhar e no sorriso :)
Um pequeno passo para a humanidade um grande passo para a minha bébé !

Infelizmente não me lembrei de tirar uma foto para a posterioridade :(



2 comentários:

  1. Os tempos eram muito diferentes, realmente...
    Vai ficar registado na memória dela, este dia! :)

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  2. São pequenas conquistas muito importantes para a afirmação da nossa independência e confiança.:) Imagino o quão contente ficou a tua 'bebé' :)

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